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Mostrando postagens de agosto, 2017

O Chamado

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Queria eu ter ouvidos tão apurados Só para ouvir o seu chamado Por que não rolou a audição? De tão entusiasmado   Quem ouviu foi o coração! Uma vez, antes de dormir, Pedro me perguntou por que não ouvimos quando, ele, no abrigo, tantas vezes chamou por nós. E, para me mostrar, sussurrou: - Mamãe, Papai! Poderia ser a distância, o barulho e tantos obstáculos que nos desorientam nessa cidade. Mas, não era essa a resposta. Não mesmo!   Imaginei essas noites dormidas no abrigo, por 3 anos, nas quais seus murmurinhos somente ele ouvia e que seus sonhos ficavam guardados na gaveta… É o que acontece com muitas crianças que estão nos abrigos, principalmente com os que estão ficando mais velhinhos. Eles sabem que quanto mais tempo lá, menores serão as chances de compor uma família. No entanto, lembrei e contei a ele que muitas vezes, antes de dormir, eu também chamei por ele. E quantas ondas puladas nas viradas de ano, eu perguntei: - Meu filho, onde está você?  

Evolução

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Na ocasião em que demos entrada com os documentos no Fórum, em fevereiro de 2013, para o processo de habilitação, não fazíamos ideia de quanto tempo iríamos aguardar.   Em 1 ano fomos habilitados (após entrevistas com psicólogos e assistentes sociais) e, mais 6 meses sucedidos, eu não me contive. Fui até a Vara da Infância e da Juventude e lá contei a minha aflição à espera de um telefonema. Fui convidada a comparecer no gabinete do juiz, que me mostrou todo o trabalho que a ele se designa. Constatei que seu ofício era fastidioso e realizado com muito esforço. Pois, em 2014, o CNA (Cadastro Nacional de Adoção) ainda não dispunha de recursos tecnológicos modernos para que se agilizasse os processos. Saí de lá sabendo que a paciência continuaria como minha fiel escudeira.   Observação: Esclareço que, mesmo sendo recebida pelo juiz, aguardei pelo ansiado telefonema, ocorrido em Janeiro de 2016.   Em 2015, houve uma reestruturação no CNA, facilitando as operações e viabilizando a

A Música...

Em uma das idas ao SOS Aldeias Infantis, houve uma em que o Gustavo não pode ir. E, foi em uma tarde onde estávamos, Pedro e eu, na quadra jogando bola quando uma chuva, ou melhor, uma tempestade começou a cair. Com raios, trovões e algumas poças começaram a brotar na quadra. Peguei-o no colo e ficamos bem no centro a olhar a chuva, quietos. O barulho do granizo nas telhas era quase ensurdecedor. Até que a chuva começou a diminuir e Pedro sorriu encantadoramente para mim. Num instante, ele estava no ar (brincadeira adorável de lançá-lo ao alto e agarrar nos braços), quando saiu uma voz lá de dentro de mim: - Você é o Amor da Minha Vida! Pedro parou no ar. Ví seu rosto perplexo. Foi tudo em câmera lenta. Nem eu acreditei. Ele voltou aos meus braços, me abraçando efusivamente. Foi aí que a nossa história se corporificou!!! Reconto este episódio (postado aquí em “As Idas ao Abrigo”), pois vemos que tudo está atrelado ao amor, o qual, reforça os aprendizados, em todos os senti

Annie

Tantos anos se passaram e quando penso em um filme sobre orfandade o primeiro que sempre me vem à cabeça é   “Annie”. Lançado em 1982 e dirigido por John Huston, foi baseado na história em quadrinhos “Little Orphan Annie” (Annie, a Pequena Órfã). Assistí quando tinha 12 anos e o reví muitas vezes… me emocionei em todas. Ela, a Annie, interpretada pela ótima Ailleen Quinn, era uma garota que vivia em um orfanato, onde sonhava sair, mas, acreditava que seus pais estivessem vivos.   Hoje, me faz pensar o quanto me atraía essa história e por tantas vezes me fez refletir sobre as crianças que vivem nesta situação. E, quando me deparo com o que me tornei, revejo esse filme com uma alegria em saber que encontrei a minha missão. Talvez a soubesse desde então…

A Adaptação_P.4

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Logo nos primeiros 3 meses, percebemos a evolução do Pedro no dia a dia.  Vimos a sua espontaneidade aflorar, o seu olhar a focar nos olhos de outrém, as expressões contidas se transformando em segurança perante a família, os novos amigos e professores.  Porém, todos os dias antes de dormir, as mesmas perguntas eram feitas: - Você é minha mãe? Ou, para o Gustavo: - Você é meu pai? - Sim! Você é o nosso filho tão desejado e muito, muito amado. Tivemos muita sorte de te encontrar! - respondíamos. Ele, inúmeras vezes, reagiu: - Eu é que tive a sorte de encontrar vocês. Escolhi vocês para serem meus pais!  Ele não nos perguntava como uma dúvida, mas sim, para que afirmássemos - repetidamente - aquilo o que ele mais esperou encontrar em sua vida: um pai e uma mãe. E ser amado!  A criança aprende com as repetições, mas esta, é fascinante. Inflam os nossos corações!      Com 3 anos de vida, o tempo é diferente. Com essa idade não se faz ideia o quanto se passou.

Adote com Carinho!

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Quando decidimos adotar, passei a procurar por livros que tratassem desse assunto com apuro. Imagine só, você não saber se receberá um bebê ou uma criança em seus braços. Não é apenas se engatinha ou se caminha...   Bateu a necessidade de me aprimorar, pois sabia que amor não iria faltar. Mas, como nos preparar? Isso não envolve só a nós - meu marido e eu - mas toda a família, todos que convivemos e os que cruzarão nossos caminhos. O primeiro livro que eu lí, “Adote Com Carinho - Um Manual Sobre Aspectos Essenciais da Adoção”, (Editora Juruá) da autora Lidia Weber (estudiosa sobre os temas abandono, institucionalização e adoção há mais de 20 anos) é um belo e completo instrumento para quem tem este projeto de vida: ser pais por adoção.   Retrata tanto os mitos como as verdades, desde as diversas formações de famílias, as comunicações com a família extensa e filhos, as motivações e expectativas, tratando com clareza e propriedade sobre o tema. A leitura desta obra me con

Adaptação_P.3

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Quando conhecemos o Pedro, no primeiro dia de nosso encontro no SOS Aldeias Infantis http://www.aldeiasinfantis.org.br/ tivemos dificuldade de compreender o que ele falava. Tínhamos que recorrer a ajuda da cuidadora social para que “traduzisse” o que dizia. Ela, a cuidadora, nos contou que ele falava muito bem, porém, com a chegada de um novo amiguinho, que tem paralisia cerebral, ele havia regredido em alguns aspectos, um deles, a fala. Passamos a entender melhor sua pronúncia após 3 dias de convívio no abrigo. Ele havia acabado de completar 3 aninhos e sabíamos que isso seria superado. Basta estímulo, o uso de bom vocabulário, uma boa escola e, claro, o mais importante: amor!     Então, mesmo ainda visitando-o no abrigo, passei a pesquisar por escolas infantis próximas a nossa casa e que fosse apropriada para Pedro iniciar sua tão sonhada vida escolar.   Lembro-me de um dia que estávamos no parquinho onde há uma creche municipal conjugada ao Aldeias Infantis, quando ele parou

O Acordo

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Para nos preparar   sobre a parentalidade por adoção e seus desafios, passamos a buscar informações (além das participações no grupo de apoio à adoção) em livros e filmes que tratam com particularidade sobre este assunto. Mas, muito antes desta busca sobre o processo da adoção, tive o privilégio de encontrar o Projecto Artémis, fundado em Portugal por Maria Manuela Pontes, que tem como propósito apoiar as mulheres que passaram por perdas gestacionais. Sendo este o meu caso, após resultados positivos em tratamentos para engravidar. Foi de enorme ajuda saber que eu não estava sozinha dentro deste sofrimento que nos faz suportá-lo caladas. Muitas vezes, por vergonha, culpa e até mesmo o desespero onde não há consolo que possa alcançar a nossa tristeza, indignação…aquela barriga, antes motivo de orgulho e, agora, vazia, oca! Após pesquisar no site http://projectoartemis.blogs.sapo.pt/   como viver este momento de luto, pois sim, para mim, foi necessário e de excepcional auxíli